A
José Néri da Rocha, que foi, como eu,
menino
de Tarauacá
Eis
o rumo principal, Avenida Juvêncio de Menezes.
O
calçadão entornando-se no meio da rua
(não
havia automóveis)
articula
os passos do menino.
Aqui
é o fórum adiante o mercado,
A
maçonaria, a prefeitura, o telégrafo
(Ah!
Sua torre, alta e esguia, a torre do telégrafo
para
transmitir segredos ao pé do ouvido).
A
avenida vem ao encontro da Praça do Coreto
Onde
deslizam os sonhos, de onde vêm? Para onde vão?
E
o cinema no puro instante da imagem muda e iluminada
Liberta
fantasias na extensão de mundos inalcançáveis.
Ali
o menino vai receber
Aulas
de piano na bonita casa da professora.
O
médico, o delegado de polícia, a parteira, o padre
Abrem
as janelas e portas com vocação
De
receber e armar gestos amigos.
A
Avenida Juvêncio de Menezes
leva
as almas no instante do amor e do socorro
na
Igreja de São José que oferece
a
face, o perfil, a fonte da Santa Paz do Senhor.
Nem
o tempo íngreme imobiliza em meus ouvidos
Os
sons da banda como borboletas encantadas
No
coreto que se desprende do roteiro da
Avenida
Juvêncio de Menezes.
Rio
de Janeiro, 1994
Av. Juvêncio de Menezes a qual se refere Leandro Tocantins no poema acima. |
Leandro Tocantins nasceu em Belém do Pará. Aos nove
meses de idade viajou com seus pais para o Acre, estabelecendo-se no Seringal Foz do Muru, em
frente à cidade de Tarauacá, onde se estabeleceram para administrar
seringais, herança da liquidação da Casa Aviadora Barbosa & Tocantins, na
Praça de Belém, afetada pela crise econômica da borracha. Os cenários virgens
acreanos foram a primeira visão no espírito do menino, que mais tarde, se
inspiraria, já escritor, a produzir Os
Olhos Inocentes (Imitação da
Infância), Prêmio Osvaldo Orico da Academia Brasileira de Letras, que ele
classifica de novela existencial, Aventuras
de Tizinho (nos rios e nas selvas amazônicas), novela juvenil adaptada para
o teatro e encenada no Rio de Janeiro. Na verdade, toda a sua obra de escritor
gira em torno de dois pólos de influência: Pará (Belém e ilha do Marajó), e
Acre. É o primeiro a projetar literariamente a região de Tarauacá a nível
nacional. Leandro Tocantins faleceu em 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário